Sobre a ideologia comunista

Neste post vou fazer uma brevíssima introdução ao comunismo e sugerir algumas leituras.

Primeiro ponto: o que querem os comunistas?

Resposta: viver em uma sociedade mais justa.

Como assim, mais justa?

Socialistas e comunistas acreditam que a fonte de toda a riqueza é o trabalho (aliás, não apenas eles, pois essa ideia também é compartilhada por Adam Smith, ninguém mais ninguém menos que o pai do Liberalismo). O trabalho é a fonte da riqueza pois apenas por meio dele a matéria bruta é transformada em bens e instrumentos de valor.

Já que é o trabalho que gera a riqueza, o sensato é que ela retorne a quem a gerou – o trabalhador. Por isso os socialistas e comunistas criticam a grande desigualdade social. Para eles, os trabalhadores fazem jus a uma parcela proporcional da riqueza que geram. No capitalismo, a maior parte da riqueza gerada pelos trabalhadores fica com os proprietários dos meios de produção (os donos das fábricas e das fazendas, que controlam as máquinas e os equipamentos). Para Marx, essas máquinas deveriam ser de propriedade dos trabalhadores – deveriam ser socializadas. Assim, as fábricas e as fazendas se tornariam espaços de trabalho coletivo e toda a riqueza gerada seria distribuída proporcionalmente entre todos os trabalhadores. A expressão “a cada um de acordo com o seu trabalho” é uma das máximas socialistas.

A socialização dos meios de produção seria um primeiro passo. Marx vai mais longe e considera que as decisões sobre a produção e sobre a “administração das coisas” também devem ser coletivas – em outras palavras, democráticas. Ele acreditava que movimentos como “A Comuna de Paris” indicavam um caminho para reorganizar a sociedade.

Em síntese, os comunistas pregam a distribuição mais justa da riqueza por meio da socialização dos meios de produção. Mas não se trata apenas de garantir um salário maior. É necessário aumentar o controle dos trabalhadores sobre seu trabalho e o produto de seu trabalho. Por isso propõem também a ampliação da participação dos trabalhadores no processo de decisão, sejam decisões administrativas no local de trabalho, sejam decisões políticas de âmbito mais geral.

Creio que podemos resumir a proposta socialista em uma palavra: solidariedade.

A ênfase do capitalismo é a competição, seja entre empresas, seja entre indivíduos. O Socialismo e o comunismo propõem um caminho oposto. Em vez de competição, colaboração. A união dos trabalhadores, a divisão mais proporcional da riqueza e a participação de todos nos processos decisórios – tudo isso levaria à construção de uma sociedade mais justa.

Gostaria de sugerir o livro “Marx estava certo”, de Terry Eagleton. Nele há uma apresentação bem didática das críticas que se fazem ao marxismo e suas respostas.

Note-se que o socialismo é anterior a Marx, mas ele foi o principal teórico do movimento e, quer seja para concordar ou para criticá-lo, trata-se de leitura obrigatória.

Espero ter ajudado. Se alguém tiver dúvidas, deixa na caixa de comentários que eu respondo.

Uma última obervação. Hoje em dia fala-se muito em um tal de “marxismo cultural”, que seria um instrumento de desagregação social e da família – preciso deixar claro que isso não existe. Isso não passa de propaganda contrária ao marxismo, mas baseada em uma série de falsidades. Sobre o “marxismo cultural”, gostaria de sugerir dois breves artigos. O primeiro, escrito por Jason Wilson, jornalista e escritor australiano – em inglês aqui (clique para ir ao site do jornal britânico ‘The Guardian’), mas tem uma tradução aqui, no site ‘El Coyote’. O segundo, escrito pelo professor Bertone Sousa, da Universidade Federal de Tocantins (clique aqui).

Abaixo, um brevíssimo histórico do Partido Comunista no Brasil.

  1. O Partido Comunista nasceu no Brasil em 1922. Denominava-se Partido Comunista do Brasil, mas a sigla era PCB;
  2. Em 1956 Nikita Kruschev, que havia se tornado o líder da antiga URSS, denunciou os crimes de Stálin e iniciou algumas reformas na União Soviética e na organização do movimento comunista internacional – por exemplo, a nova diretriz era que os partidos comunistas deveriam iniciar uma fase de convivência com o capitalismo, aliás, sugere-se que os comunistas ajudem no desenvolvimento da burguesia nacional. Em consequência disso, no ano de 1958 o PCB mudou de nome, passando a se chamar de Partido Comunista Brasileiro, mantendo a sigla PCB. O partido reorganizou-se e passou a ter um perfil mais nacionalista e desenvolvimentista, deixando para uma outra fase qualquer pretensão de mudar nosso modo de produção, de capitalista para socialista. Considerava que primeiro era necessário desenvolver as forças produtivas nacionais ao máximo e só então socializar os fatores de produção. Para isso era necessário industrializar o Brasil e criar uma burguesia forte;
  3. Em 1960, integrantes do PCB que rejeitam as mudanças no partido fundam o PCdoB, para manter o nome original de Partido Comunista do Brasil, e seguem fiéis às orientações anteriores a 1958. Eles, na verdade, se consideram a continuidade do partido fundado em 1922. Daí pra frente, os comunistas seguiram divididos.

Ah, lembrei de mais uma coisa que costuma gerar dúvida: o PT é um partido comunista? Não. O PT está mais próximo de ser um partido Trabalhista ou um partido Social-Democrata, que defende a criação de um estado de bem-estar social, à semelhança do que existe em países como a Noruega, Dinamarca e Suécia, a partir da conciliação entre capital e trabalho e não da socialização dos meios de produção.

 

 

 

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